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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mastigar e engolir errado podem provocar diversos problemas de saúde

Para discutir o ato de engolir (deglutir) e suas conseqüências, fonoaudiólogos do Brasil, América Latina, Estados Unidos e Europa estiveram reunidos nos dias 12 e 13 de agosto, para discutir os melhores tratamentos disponíveis no mundo. O I Encontro Internacional de Deglutição aconteceu no Cefac, em São Paulo, e apresentou soluções para problemas que parecem impossíveis como falar assobiando, cuspir enquanto fala, falar com dificuldade, babar enquanto dorme ou tomar café sem fazer barulho.

O encontro também tratou de problemas causados por cirurgias de câncer de cabeça e pescoço incluindo a de tireóide e os problemas que a língua pode causar na estética se não ficar na posição correta e como a deglutição afeta a arcada dentária e os conseqüentes problemas ortodônticos. Durante o evento houve o lançamento do livro Tratamento da deglutição - a atuação dos fonoaudiólogos em diferentes países", escrito por 20 profissionais, americanos, sul-americanos e europeus e organizado por Irene Marchesan.

Problemas tratados pelo fonoaudiólogo

A imagem de fonoaudiólogo sempre foi associada a gagueira e troca de fonemas, principalmente do "l" pelo "r" em crianças. Mas não são só as crianças que precisam de tratamento. Neste depoimento há diversos casos de pacientes adultos. Alguns parecem simples, mas se transformam em problemas sérios de convivência e auto-estima quando não resolvidos. "Se um problema está incomodando, é preciso buscar ajuda", explica a Prof. Dra. Irene Marchesan. "Na maioria das vezes, o incômodo é o sinal de que algo não está bem e resolver o problema pode ser mais fácil do que se imagina", garante a profissional, que é Diretora do Cefac e da Ossip Cefaquinho e que coordenou o I Encontro Internacional de Deglutição, que reuniu 12 palestrantes estrangeiros e seis brasileiros para mostrar como alterações no ato de engulir (deglutição) pode alterar, interferir e mudar a vida das pessoas.

Barulho quando engole

Paciente de 43 anos não podia tomar café porque fazia barulho quando engolia e o marido não gostava. Vale lembrar que no ato de deglutir, quando passamos da fase oral para a fase faríngea, temos a ondulação da língua de frente para trás carregando o bolo alimentar para a faringe. Quando esta paciente tomava café quente, o dorso se elevava com maior força e por mais tempo, protegendo a entrada da faringe. Este movimento de elevação acabava produzindo um ruído forte, sendo desagradável para quem está perto. Ensinamos a paciente a diminuir a força do dorso da língua e o ruído desapareceu. A terapia durou apenas dois meses e resolveu o problema.

Não conseguir comer porque engasga

Homem, com 66 anos. Queixa principal: não poder comer mais empadinha. Quando as comia, engasgava muito. A fono ensinou como se dá o ato de engolir mostrando-lhe que muitas mudanças fisiológicas e musculares naturais ocorrem com a idade e, por isso, temos que modificar algumas ações ao deglutir determinados alimentos para evitar o engasgo. No caso da empada, que é um alimento muito seco e farinhento, precisamos de mais saliva para que o bolo alimentar se torne coeso. Com o avanço da idade, temos menor produção de saliva. Além da menor produção de saliva, a coordenação motora fica mais lenta. Comer alimentos muito farinhentos, colocando quantidades maiores na boca, dificultará a preparação de um bolo adequado levando ao engasgo. Como orientação terapêutica, ele passou a quebrar a empada em partes menores e introduzimos pequenas quantidades de líquido durante a mastigação quando necessário, para umedecer melhor o alimento. E o paciente voltou a comer a empada sem se engasgar.

Cuspir enquanto fala

Paciente 54 anos, balconista de uma loja de shopping estava com medo de perder o emprego, pois, quando falava expelia saliva (cuspia), além de apresentar ceceio anterior (projeção de língua entre os dentes anteriores). A partir da ameaça de perder o emprego, ela passou a falar com a boca mais fechada, evitando a saída da língua e da saliva. Esta técnica, empregada intuitivamente por ela, fez com que sua fala ficasse imprecisa e que perdesse a naturalidade nas vendas. Meses antes, procurando melhorar sua estética, a paciente procurou um dentista que colocou um aparelho que, aparentemente, criou um desequilíbrio e permitiu que a língua escapasse e o controle da saliva ficasse mais difícil. Após uma conversa com o dentista houve uma modificação na aparatologia utilizada, o que diminuiu sensivelmente o problema. Conversamos, ainda, com o dono da loja mostrando as vantagens da utilização do aparelho e, como a sua funcionária, ao investir na aparência, estava melhorando o próprio nível da loja. Tudo seria uma questão de tempo. Em seguida, foi trabalhado com a paciente certos posicionamentos da língua a fim de adaptá-la às modificações ortodônticas realizadas. Isto fez com que, a partir da compreensão e conhecimento do processo mecânico da fala, a paciente pudesse ter um melhor controle de sua pronúncia e da saliva.

Roncar e babar

Paciente com 57 anos, divorciado, perto do segundo casamento com uma mulher de 35 anos. Queixa: ronco e baba noturna. Como iria se casar se roncava e babava? Não queria que isto ocorresse na frente da nova esposa. Para ele, isto poderia interferir no seu novo relacionamento. Encaminhado ao médico, diagnosticou-se que ele roncava sem apnéia noturna. Orientamos o paciente para que emagrecesse um pouco, não comesse e nem bebesse em demasia antes de dormir. Também deveria mudar sua posição habitual na cama, que era de barriga para cima e passasse a dormir de lado. Finalmente, fizemos um trabalho de selamento labial e fortalecimento das estruturas posteriores, através de exercícios de tonificação.

Irene Marchesan - A Prof. Dra. Irene Marchesan (irene@cefac.br) é brasileira, fonoaudióloga há 28 anos, única brasileira premiada pela IAOM - International Association of Orofacial Myology (http://www.iaom.com) por sua contribuição nas pesquisas de Miologia Orofacial.

É Especialista, Mestre e Doutora em Motricidade Oral (MO). Autora de diversas publicações na área de MO, destaca o livro "Fonoaudiologia e Ortodontia/ Ortopedia Facial - esclarecendo dúvidas sobre o trabalho conjunto" como uma de suas principais obras. Participa do Conselho Editorial de várias revistas científicas e é a Diretora Científica do Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia.

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